De Pássaros e Homens

Passava e observava, com certa curiosidade, os animais em suas gaiolas, até que se deteve em um pássaro, que achou especialmente belo. Deteve-se por uns instantes a observar o animal e por fim, com uma ponta de pena, exclamou:
- Pobre passarinho, preso nessa pequena gaiola; jamais saberá o que é voar!
O pássaro, não alheio a curiosidade que o homem nele depositava, pensou consigo:
- Pobre humano, preso numa gaiola de impossibilidades; jamais saberá o que é ser feliz.

Olhos Fugidios

Os olhos,
Fugitivos do desejo,
Escapam ao menor entreolhar.

Encurralados,
Num momento de desleixo,
Fecharam-se durante o beijo.

Do Impulso à Repulsa

Do impulso à repulsa,
Do corpo que expulsa
A semente convulsa.

O lençol manchado,
De suor encharcado,
Irrefutável prova.

Deserto e Foz

Decerto o deserto do incerto,
Que entre nós surgiu,
Tornou-se foz quando a voz dela,
Tão bela, sorriu.

Prefiro morrer à míngua
Arriscando no diverso
Do que viver minha vida
Recitando o mesmo verso.

Moça na Janela

Moça na janela
Nunca vi coisa mais bela
Será que é a personificação da beleza
Ou a beleza que é personificação dela?

Animando o Inanimado

A prosopopéia dá vida
A quem carece dela.

Animar o inanimado
É chover no seco,
Nunca no molhado.